Eu
ouço falar em amor gratuito desde muito pequeno. Gratuito deriva da palavra
graça, que, por aferição, entende-se aquilo que é concedido a alguém sem que
este faça algo para merecê-lo, sem esforço, algo dado espontaneamente. Na
igreja, quando eu ainda era teísta, ouvíamos muito nas escolas dominicais a
palavra graça. Uma vez, o reverendo perguntou o que significava e,
corretamente, alguém respondeu “favor imerecido”. Eu guardei aquilo comigo. Não
sei por quê. Achei bonito essa coisa de favor imerecido, de algo ser nos dado
sem que tenhamos que pagar por isso ou passar por uma via-crúcis para alcançá-lo.
A ideia, por si, é bonita.
Antes
de escrever isso, eu estava pensando no que é preciso fazer para ser amado. Já
fiz coisas para tentar chamar a atenção de alguém, o que eu supunha ser preciso
para ser “amado”. Eu nem ao menos sei direito o que é amor e acho que nunca
saberemos, mas mesmo assim tentei que essa graça me alcançasse, sem esforço,
pura e simplesmente pelo favor gratuito de ser-se, e sendo-me, ser amado pelo
que sou.
Não
sei se isso é possível. O amor exige coisas de nós. Coisas que na maioria das
vezes estão fora do nosso alcance. É a partir daí que o amor já não é mais
gratuito, quando nos sentimos insuficientes, pequenos e fracos. Parece que não
podemos pagar para ter o algo, e até no amor quem tem mais leva a melhor. É a
lei da oferta e da procura, nem todo mundo pode pagar pelo amor, e não pagando,
não o obtém. A solidão é ardilosa e bate à porta cobrando o amor que você não
tem.
Amor
é ligar, é se importar; querer que o outro faça parte. É sentir falta, fazer
questão. Do contrário, é indiferença. E só os mortos são indiferentes porque
eles não podem sentir nada...
Hoje estou um pouco
cansado e estressado com tantas coisas. Mas, sobretudo, estou cansado da
estrada da vida. E da falta de amor... Eu não queria ter que pagar por isso,
não queria ter que carregar o mundo nas costas e trazê-lo para alguém, nem ter
que provar nada. Só queria, quem sabe, chegar em casa à noite e receber uma
mensagem, um convite, de alguém dizendo que se importa, que me percebe, que me
conhece, que me distingue. Isso, sem que eu precise dar-lhe nada além do que eu
sou: um amor gratuito.