Acho
que deixei muita coisa para trás. Muito do que sonhei, talvez hoje já não faça
tanto sentido. Algumas coisas deram certo, quando não deveriam; outras deram
errado quando deveriam dar certo. A vida é contraditória. Ou seria eu ingrato
demais a ponto de não perceber que a vida me trouxe exatamente o que pedi, mas
num momento em que meu coração já estava frio?
Os
sonhos mudam; a gente amadurece. Muita coisa se desgasta. O sonho que antes era
tudo em minha vida, hoje não me veste mais...
Na
verdade eu estou mentindo. Todos eles ainda fazem muito sentido para mim, eles
são parte do que sou (embora incompleto) e me trouxeram até aqui. Eu tive que
abrir mão dos meus sonhos porque nem tudo, como sempre, depende exclusivamente
da gente. Mas, sobretudo, porque às vezes é preciso que sejamos honestos com
nós mesmos: muitas vezes, não somos bons naquilo que queríamos. E também aquele
sonho talvez não seja aquilo que a gente pensa que é.
Eu
gosto muito de um filme chamado Frances Ha, que é homônimo da protagonista. Ela
é uma jovem que sonha em ser bailarina, mas que tem pouco talento e é muito
pobre. Sua vida tem tudo para dar errado, mas é o errado que dá certo. Seu erro
é o seu talento.
Eu
queria ser como ela nesse sentido, queria encontrar na minha imperfeição o contentamento
do encontro comigo mesmo. Queria saber como é a sensação de saber fazer o que
se gosta de um jeito despreocupado, torpe e humano. Talvez eu consiga, ou hoje,
ou amanhã, ou nunca. Tanto faz.
Talvez,
quem sabe, o que me falta é o sonho certo e eu esteja sonhando errado até
agora. Sonhar é, antes de tudo, estar acordado. E se você não acordar, a vida
dará um jeito. Não gosto muito do jeito dela, porque não é gentil, mas ela
sempre faz.
A gente precisa viver
antes de sonhar. Não se pode abdicar de viver. É nossa obrigação viver.