domingo, 23 de fevereiro de 2020

A felicidade que eu quero

Eu tomei uma decisão hoje em minha vida, depois de uma autorrevelação do mais profundo do ser. Eu decidi imaginar a minha felicidade e vivê-la. Mas isso não seria fugir da realidade? Não. O fato de ser imaginado não quer dizer que não exista. Se eu existo, eu imagino. Minha imaginação existe. Sem contar que nossos pensamentos coordenam nossas ações, e estas, por conseguinte, modificam a realidade.

Mas me deixe contar como eu quero ser feliz.

Eu quero uma felicidade daquela exagerada, porém suficiente. Sim, com todo esse paradoxo. 
Eu quero uma felicidade adiante e além, daquelas que a gente não achava que existia.
Quero a felicidade do desconhecido, do primeiro encontro, da primeira sensação da descoberta do mundo.
Quero uma felicidade daquelas de doer no peito, de tão grande, de tão satisfatória, de tão plena, única e insubstituível.
Quero a felicidade dos dias cinzas e azulados, aqueles que quando chove dá uma vontade de se recolher e mergulhar em si mesmo.
Eu quero a felicidade da solidão, do vazio, do nada, do oco, do vácuo, porque a solidão é uma condição humana, e tem dias que tudo que nos resta é o nada, e é aí que a felicidade é testada: ser feliz é também abraçar a própria solidão.
Eu quero a felicidade do fim, porque tudo que traz felicidade tem um fim e aceitar isso é ser feliz.
Eu quero a felicidade da saudade, porque eu sei que o que passou foi bom.
Quero a felicidade da imperfeição: a felicidade é imperfeita.
Quero a felicidade daquilo que eu sinto mas que ainda não sei dizer, daquilo que está dentro de mim, que estou gestando, que é inefável. Existem coisas no nosso interior que ainda somos incapazes de dar nome, nem a psicologia tem competência para isso.

Espero que um dia eu possa reler tudo isso e me orgulhar de ter vivido assim. Mas talvez nesse momento eu já tenha uma outra ideia de felicidade. Minha felicidade é um reticência: adiante e além... Já não basta escrever, é preciso viver, mentalizar, fazer disso uma ideologia, uma religião: a felicidade. No entanto, tudo isso pode não passar de uma vontade rarefeita que o mundo e a vida apagam num sopro mínimo. Não importa, eu já fui feliz por saber o que quero, mesmo que de forma imprecisa. Ser feliz é algo self, de si mesmo, algo que vem da gente, que parimos. É o nosso fruto que oferecemos ao mundo e a nós mesmos, e depois o comemos. Mas a minha felicidade sempre será clandestina, fora da lei, porque eu exijo muito da vida. E ela também exige muito de mim.