Às vezes tenho a sensação de que estou num carro dirigindo sobre uma estrada tortuosa e difícil. Está chovendo, está escorregadio. O carro desliga para lá e para cá. Não importa o quando eu aperte os freios ou gire o volante. O carro não me obedece mais. Estou sem direção agora. Só ladeira a baixo. Essa é a história da minha vida. Eu perdi meu controle e direção há um bom tempo já. Não tenho mais estrada ou caminho. Seja em terra, seja em mar, não há bússola para me guiar. Estou à deriva.
Você já se perguntou quando sua vida saiu dos
trilhos, quando tudo aconteceu diferente de tudo que você já imaginou? Achamos
que conhecemos a vida o suficiente, mas está errado. Não sabemos de nada. Tudo que
nos fora contado são lendas que logo caem por terra quando saímos da terra dos
sonhos. Não sei por que estou escrevendo isso. Será que porque talvez amanhã é
meu aniversário? Puta merda, eu vou fazer vinte e seis anos. Estou à beira dos
trintas. Que sensação horrível é essa de não se reconhecer, não é mesmo? Onde
está seu eu antigo? Onde estão seus sonhos inabaláveis? Muito se perdeu, mas
muito também ainda continua aqui.
Qual seria seu desejo mais profundo? Acho que um
mundo sem desejo, porque então seria um mundo sem dor. Sofremos porque
desejamos. A não concretização do desejo leva à dor. Todavia faremos o possível
e impossível para que nossos desejos mais profundos sejam realizados. Os nossos
desejos mais profundos guiam os nossos desejos superficiais. Nem tudo que
fazemos é o desejo, mas um meio para chegar a ele. É como camadas. Vamos passando
por etapas até chegar ao real destino: aquilo que nos guia. Mas isso se perde
quando não sabemos mais como chegar lá, quando não sabemos mais o que fazer
para conquistar aquilo. É aí que chega o sentimos de fracasso e impotência:
somos pequenos.
Não podemos ser o que queremos, nem ter.