domingo, 7 de janeiro de 2018

O que aprendi com Sartre

Quando você começa a estudar Sartre (Existencialismo) você é golpeado logo de repente: "não existe destino". Ou seja, não há propósito de nada, a vida é vazia mesmo.
Por mais que queiramos nos consolar com inúmeras crenças de que estamos sendo levado a um bem maior, a verdade é que o tempo está passando e só. O vazio da existência segue.
Você, diante disso, precisa escolher o que fazer da vida. E escolher, sobretudo, o que fazer do que a vida te fez.
Na prática, é muito simples: o que eu posso fazer dentro das minhas condições físicas e humanas e com os recursos que tenho agora? É tudo muito racional, pragmático.
O existencialismo pode ser um choque, principalmente a vertente Sartriana, por ser ateísta, porque ela nos tira da zona de conforto de achar que há um ser em algum lugar que tem tudo sob controle. Você começa a se sentir órfão: Deus morreu. Agora, o que devo fazer de mim? É como a maioridade, só que não acontece necessariamente aos 18 anos: ela vem no momento desse lampejo de consciência.
O que aprendo com isso? Que nós, dentro das nossas circunstâncias, somos responsáveis pela nossa vida por causa das nossas escolhas. Talvez não tenhamos o rol de escolhas que desejamos, mas sempre teremos a oportunidade de escolher, e isso é o que define a vida humana.
Assim, não há realização e plenitude humanas, porque nada está sob nosso controle, exceto o rol de escolhas de que detemos.
E escolher não significa garantias de sucesso. O próprio Sartre falou que para empreender não é preciso esperança.
Acho que foi diante dessa constatação que me encontrei na atual crise: eu não sei o que eu fazer comigo.
Eu vou deixar um trecho de um conto que tem por nome “O Homem que Apareceu” da minha escritora brasileira predileta, Clarice Lispector, que fala sobre a imprevisibilidade da vida; de que, como Freud dizia, a intenção da vida não é nos fazer felizes. A vida é amoral. Segue o trecho:
“[...] Ele chorou um pouco. Era um belo homem, com barba por fazer e abatidíssimo. Via-se que havia fracassado. Como todos nós. Ele me perguntou se podia ler para mim um poema. Eu disse que queria ouvir. Ele abriu uma sacola, tirou de dentro um caderno grosso, pôs-se a rir, ao abrir as folhas.
Então leu o poema. Era simplesmente uma beleza. Misturava palavrões com as maiores delicadezas. Oh Cláudio – tinha eu vontade de gritar – nós todos somos fracassados, nós todos vamos morrer um dia! Quem? Mas quem pode dizer com sinceridade que se realizou na vida? O sucesso é uma mentira.