Quando
você começa a estudar Sartre (Existencialismo) você é golpeado logo de repente:
"não existe destino". Ou seja, não há propósito de nada, a vida é
vazia mesmo.
Por
mais que queiramos nos consolar com inúmeras crenças de que estamos sendo
levado a um bem maior, a verdade é que o tempo está passando e só. O vazio da
existência segue.
Você,
diante disso, precisa escolher o que fazer da vida. E escolher, sobretudo, o
que fazer do que a vida te fez.
Na
prática, é muito simples: o que eu posso fazer dentro das minhas condições
físicas e humanas e com os recursos que tenho agora? É tudo muito racional,
pragmático.
O
existencialismo pode ser um choque, principalmente a vertente Sartriana, por
ser ateísta, porque ela nos tira da zona de conforto de achar que há um ser em
algum lugar que tem tudo sob controle. Você começa a se sentir órfão: Deus
morreu. Agora, o que devo fazer de mim? É como a maioridade, só que não
acontece necessariamente aos 18 anos: ela vem no momento desse lampejo de
consciência.
O
que aprendo com isso? Que nós, dentro das nossas circunstâncias, somos
responsáveis pela nossa vida por causa das nossas escolhas. Talvez não tenhamos
o rol de escolhas que desejamos, mas sempre teremos a oportunidade de escolher,
e isso é o que define a vida humana.
Assim,
não há realização e plenitude humanas, porque nada está sob nosso controle,
exceto o rol de escolhas de que detemos.
E
escolher não significa garantias de sucesso. O próprio Sartre falou que para
empreender não é preciso esperança.
Acho
que foi diante dessa constatação que me encontrei na atual crise: eu não sei o
que eu fazer comigo.
Eu
vou deixar um trecho de um conto que tem por nome “O Homem que Apareceu” da
minha escritora brasileira predileta, Clarice Lispector, que fala sobre a
imprevisibilidade da vida; de que, como Freud dizia, a intenção da vida não é
nos fazer felizes. A vida é amoral. Segue o trecho:
“[...] Ele chorou um
pouco. Era um belo homem, com barba por fazer e abatidíssimo. Via-se que havia
fracassado. Como todos nós. Ele me
perguntou se podia ler para mim um poema. Eu disse que queria ouvir. Ele abriu
uma sacola, tirou de dentro um caderno grosso, pôs-se a rir, ao abrir as
folhas.
Então leu o poema. Era
simplesmente uma beleza. Misturava palavrões com as maiores delicadezas. Oh
Cláudio – tinha eu vontade de gritar – nós
todos somos fracassados, nós todos vamos morrer um dia! Quem? Mas quem pode
dizer com sinceridade que se realizou na
vida? O sucesso é uma mentira.”
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