quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Saudades do passado que não tive e do futuro que não sei se terei

Falar de saudades, para mim, é complicado. Eu de fato gostaria de ter algo em mente que me dê saudade genuína, mas sobra pouca coisa quando vasculho meus pensamentos. Eu suponho que a saudade seja um cantinho carinhoso em que guardamos nossas relíquias. Eu realmente gostaria de abrir essa provável gavetinha e achar coisas que guardei com zelo e cuidado, mas sempre que verifico, ela está vazia.

A verdade que vou dizer é dura, nua e crua, assim como quase tudo em minha vida: eu sinto saudades de um passado que não vivi e de um futuro que não sei se terei. Parece um paradoxo intencional, e é. Eu sempre quis, quando criança, viver algumas coisas que não me atrevo a expô-las por motivos de melindrosidade devido a intimidade ser profunda, e também porque não quero parecer frágil ou vulnerável aos olhos de certas almas pequenas que venham a me ler. Mas posso dizer que há lacunas e espaços vazios em minha vida que repercutem até hoje.

Sempre fui uma criança que vivia de querer. Eu desejava muito, mas mal dava tempo de eu conceber um desejo, a vida já me dava um grande não. E foi assim por muito tempo e é até hoje. Não quero ser ingrato com a vida, afinal, como bem falou uma amiga, "seja grato, a vida poderia ser pior", e eu não retiro um pingo de razão dela. Mas é que para mim, que sempre tive, ainda que latente, um grande desejo de liberdade voraz, sempre me pareceu angustiante que me podassem as asas e me cerceassem o voo. Eu nunca consegui lidar muito bem com a impotência humana intrínseca, de querer algo e não poder...

E assim eu cresci e vi minha vida passar totalmente ao contrário do que um dia pretendi. E é daí que vem essa saudade paradoxal, da incompletude ou da não realização de algumas fases da vida. É como se tivesse me amputado algum(s) membro(s). E sempre que recorro às minhas memórias, me questiono com o "se". E se eu tivesse vivido aquilo? E se aquilo tivesse dado certo?

Diante de tudo isso, eu sou feliz? A questão não é felicidade, eu não acredito nela. Quem é feliz de verdade? Todas as pessoas, em maior ou menor grau, tiveram de abrir mão de algo e deixar muitas coisas para trás. Felicidade é um mito muito bem construído, como se nascêssemos com um manual ou mapa da vida e já soubéssemos o que vai suceder, como se a vida fosse um processo linear e assertivo. Grande engano, a vida é um caminho tortuoso, traiçoeiro e incerto.

Mas não quero que pense, querido leitor, que minha intenção é deixá-lo triste. Eu não escrevo pra isso. Mas também não escrevo pra fazer ninguém feliz. Eu escrevo sobre minhas verdades, que talvez sejam duras ou intragáveis para muitos. Eu só queria dizer que minha saudade do que não vivenciei se traduziu numa saudade inversa e se projetou num futuro que não sei se é possível. Porque as faltas que carregamos em nós não se silenciam, mas continuam repercutindo até serem ouvidas.

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