Sempre que tento ser mais artístico e poético ao escrever eu falho miseravelmente. Na verdade, eu tenho dificuldades em escrever nos conformes técnicos. Além de que é muito clichê.
Mas eu também me questiono por que escrevo. Creio que seja porque eu tive vontades em minha vida que não foram completamente atendidas, daí eu coloquei minha ansiedade nas letras. Eu escrevo porque minha vida é como um pássaro numa gaiola, se debatendo; e que, na impossibilidade de rasgar os céus, desenhou seu voo num papel e usou a palavra que o fizesse. Eu escrevo porque se não for a palavra, eu estarei perdido em mim mesmo e não terei para onde ir: a palavra cria portas, faz pontes. Eu escrevo porque tudo que eu pedi a deus não me fora atendido e, como consequência, inventei minha realidade. Eu escrevo porque agora há pouco estava sofrendo sem razão – ou por razões abafadas -, mas ao vir aqui debulhar letrinhas acho que talvez eu encontre paz e uma possível saída nos meandros das frases, sílabas e períodos. Eu escrevo porque não há ninguém para conversar no momento. Eu escrevo porque já se esgotaram as preces e deus já deve estar deveras incomodado com orações repetitivas. Eu escrevo porque quero me comprometer, porque quero sentido, responsabilidades; mas ao mesmo tempo quero ser livre para escrever quando e o que eu quiser. Eu escrevo porque desde criança eu gostei de escrever e aos 15 anos eu tive um diário. Eu escrevo para me consolar, porque eu releio meus textos e eles falam sozinhos, pois possuem sua própria personalidade: são cartas de mim para mim. Eu escrevo porque tenho a superstição de que a realidade será alterada pelos meus textos. Eu escrevo para que alguém leia essas palavras e me mande uma mensagem agradecendo por eu lhe ter salvo a vida, pelo menos naquele momento. Eu escrevo porque a esperança é reescrita quando eu quero. Eu escrevo porque agora mesmo estou tendo uma experiência culminante, onde a vida em sua mais profunda manifestação se faz viva e clara dentro de mim. Eu escrevo porque algo pede que eu o faça: eu preciso sobreviver. Eu escrevo porque a realidade é muda: eu preciso dar voz ao mundo. Eu escrevo porque tudo que eu já tentei ser deu errado, mas a escrita é a única coisa que a vida não me pode negar. Eu escrevo para não morrer: guardar as palavras é algo mortal. Eu escrevo porque há milhões de anos os dinossauros existiram, porque um ovo tem sentimentos e porque o mundo foi criado segundo os princípios da dor e que com ela temos uma dívida. Eu escrevo porque já fui longe demais até aqui e já estou distante de tudo que me faz uma alma humana. Estou à beira de descobrir o mistério do mundo e resolver todo esse problema como numa revelação divina. Eu escrevo porque quando eu morrer ainda haverá uma parte de mim que vive e que não se pode matar. Eu escrevo porque a solidão é como uma queimadura de óleo quente que é aliviada com água fria, mas que em seguida volta a arder. Eu escrevo porque quero deixar claro quem sou, mas nem tanto, porque não se pode saber quem se é com clareza: o eu é turvo e embaçado, somos assim. Eu escrevo porque sei que você também busca uma palavra ou um verso que te diga o que fazer com sua vida a partir de agora. Mas eu sinto muito, eu não posso te ajudar nem me ajudar. Eu não sei o que fazer comigo mesmo, sou uma pessoa perdida, sem bússola, sem orientação. Eu escrevo porque eu sei que escrever, por hora, é tudo que tenho; é tudo que sou.