Na
vida é preciso encontrar um jeitinho para as coisas darem certo. Não é truque
nem mágica, demagogia muito menos: é a experiência de existir. Sim. Nas
primeiras horas que antecedem o ato de existir ninguém nunca nos havia dito o
que fazer e pelo que passar: às vezes é preciso errar mais de uma vez para
aprender, não tem jeito. Não há manual nem tutorial. É um texto feito na hora,
já no palco para uma plateia inteira – na qual, inclusive, também se encontra
você se assistindo. É desse fato que quero falar - falar é difícil, eu sou
péssimo com palavras, sem modéstia alguma: já fiquei dias entalado com algo na
garganta, mas não sabia dizer para mim mesmo o que era, porém isso não vem ao
caso.
Mas,
retornando ao contexto inicial: que tal de jeitinho é esse? Para ser franco com
vocês, – não quero ser demagogo, já disse – eu também ainda não sei. Todavia,
suponho que seja a suportabilidade, que, no entanto nos é sempre negada quando
a precisamos e nunca sabemos onde achar sua fonte: a fonte da suportabilidade.
Há
quem ache suas fontes de acordo com seus princípios. Tenho uma amiga, por
exemplo, que encontra suportabilidade na religiosidade, embora eu não
compreenda o fato de ela estar sempre a queixar-se de que a vida lhe é
insuportável. É sombrio pensar nisso. As religiões, sobretudo o cristianismo,
estão sempre a nos ensinar como suportar, tendo como emblema maior a figura
mitológica do messias suportando o insuportável. Aliás, parece que o sofrimento
é uma passagem obrigatória para ser feliz: é preciso sofrer loucamente para
alcançar uma graça, matar um leão todos os dias ou passar pelo
vale-da-sombra-da-morte.
O
sofrimento humano é tão nosso e inevitável quanto o cair das folhas e o
firmamento das estrelas.
Nunca
tive curiosidade de saber quanto se lucra com o sofrimento da humanidade, desde
as religiões que prometem milagres aos livros de autoajuda. Mas deve ser um bom
dinheiro, porque mercado não falta: todo mundo sofre. A oferta é grande e a
procura também.
Por
essa razão, o que vim a escrever não é uma ajuda nem um conselho: é um fato. Se
existe um jeitinho na vida, ele pertence somente ao seu descobridor. Porque
viver é tão nosso, tão self que não se pode estender a experiência de viver ao
outro: é intransferível. A vida não é um molde e não pode ser explicada pelo
conhecimento racional. Se ela tem um jeitinho, cada um que ache o seu: suporte. O problema é que ainda não aprendi a suportar...
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