domingo, 10 de dezembro de 2017

Um Jeitinho

Na vida é preciso encontrar um jeitinho para as coisas darem certo. Não é truque nem mágica, demagogia muito menos: é a experiência de existir. Sim. Nas primeiras horas que antecedem o ato de existir ninguém nunca nos havia dito o que fazer e pelo que passar: às vezes é preciso errar mais de uma vez para aprender, não tem jeito. Não há manual nem tutorial. É um texto feito na hora, já no palco para uma plateia inteira – na qual, inclusive, também se encontra você se assistindo. É desse fato que quero falar - falar é difícil, eu sou péssimo com palavras, sem modéstia alguma: já fiquei dias entalado com algo na garganta, mas não sabia dizer para mim mesmo o que era, porém isso não vem ao caso.
Mas, retornando ao contexto inicial: que tal de jeitinho é esse? Para ser franco com vocês, – não quero ser demagogo, já disse – eu também ainda não sei. Todavia, suponho que seja a suportabilidade, que, no entanto nos é sempre negada quando a precisamos e nunca sabemos onde achar sua fonte: a fonte da suportabilidade.
Há quem ache suas fontes de acordo com seus princípios. Tenho uma amiga, por exemplo, que encontra suportabilidade na religiosidade, embora eu não compreenda o fato de ela estar sempre a queixar-se de que a vida lhe é insuportável. É sombrio pensar nisso. As religiões, sobretudo o cristianismo, estão sempre a nos ensinar como suportar, tendo como emblema maior a figura mitológica do messias suportando o insuportável. Aliás, parece que o sofrimento é uma passagem obrigatória para ser feliz: é preciso sofrer loucamente para alcançar uma graça, matar um leão todos os dias ou passar pelo vale-da-sombra-da-morte.
O sofrimento humano é tão nosso e inevitável quanto o cair das folhas e o firmamento das estrelas.
Nunca tive curiosidade de saber quanto se lucra com o sofrimento da humanidade, desde as religiões que prometem milagres aos livros de autoajuda. Mas deve ser um bom dinheiro, porque mercado não falta: todo mundo sofre. A oferta é grande e a procura também.

Por essa razão, o que vim a escrever não é uma ajuda nem um conselho: é um fato. Se existe um jeitinho na vida, ele pertence somente ao seu descobridor. Porque viver é tão nosso, tão self que não se pode estender a experiência de viver ao outro: é intransferível. A vida não é um molde e não pode ser explicada pelo conhecimento racional. Se ela tem um jeitinho, cada um que ache o seu: suporte. O problema é que ainda não aprendi a suportar... 

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